O Miguel tinha 13 anos e era conhecido por ser muito certinho. As canetas estavam sempre alinhadas na secretária, os sapatos arrumados ao milímetro, e lavava as mãos tantas vezes que a pele já começava a gretar. "És tão arrumadinho", diziam os colegas, a rir. Mas o Miguel não achava graça nenhuma. Ele não arrumava porque queria — arrumava porque tinha de o fazer. Se não o fizesse, sentia-se mal. A cabeça enchia-se de pensamentos que não conseguia controlar: "Se não lavares as mãos outra vez,